terça-feira, 21 de agosto de 2007

O Fotógrafo e a Opinião dos Outros

No fim da aula de segunda (20.08.07), depois de vermos o resultado de um exercício, eu digo a uma aluna que seria interessante ela explorar mais o tema das fotos que ela trouxe. Sem dúvida foi um dos resultados mais fortes que eu já vi para esse exercício. Valeria a pena prosseguir com esse trabalho. Já esperando uma reação positiva ou feliz da parte dela em relação ao meu comentário, ouvi quase sem acreditar: "Talvez eu faça, mas já desanimei com essas fotos." Como assim desanimou?! São lindas as fotos! E fortes! Como assim? Assim: a aluna mostra as fotos para amigas que não são muito capazes de dizer nada além de "Olha a outra! Tentando dar uma de artista!" Ela até que tenta defender o trabalho, perguntando se as amigas não entenderam nada, não viram nada ali. Viram, viram sim: "São os seus dedos, né?! São sim!" E não é que eram os dedos dela? Fora de foco, granulados, transformados em formas intensas, carregadas de sentimentos profundos. Tá na cara! Qualquer um pode ver! Quer dizer, qualquer um, não. As amigas dela não viram. Viram só os dedos ... e olhe lá! O resultado? "Não sei se vale a pena fazer mais depois daqueles comentários."

Lembrei de uma namorada Neo Zelandeza que tive faz muitos anos. Musicista, Victoria escreve para orquestras; música erudita contemporânea, trilhas sonoras para cinema. Ela entendia minhas fotos como poucas pessoas, e eu adorava mostrar minhas fotos para ela. Esperava os comentários e as críticas e as descobertas que ela ia me proporcionar, falando o que fosse das fotos que eu mostrasse. Mas apesar de ser meu público predileto, Victoria e eu discordávamos com veemência sobre esse assunto de público. Eu teimava em dizer que o artista tinha que ter em mente o público dele na hora de criar. Insistia como um bobo que nós artistas devíamos isso ao público. Ela se enfurecia e dizia que não! Absolutamente! "Eu crio minhas músicas para mim! Para mais ninguém! Se houver pessoas que gostem dela, ótimo! Se não, ótimo!" Eu não conseguia entender isso na época. Acho que depois de trabalhar com publicidade por um tempo, atendendo a clientes e mais clientes, eu devo ter cruzado os fios e embaralhado as idéias. Como é que eu vou expressar o que eu sinto, temendo a reação do outro, para agradar o outro? Victoria cria para si. Expressa o que sente, da maneira que sente, através da música. Ponto. Só isso. Mais nada.

Quer dizer, mais nada, não. Tem mais coisa, sim. E eu acabei dizendo mais uma coisa para a minha aluna. Não é o público que faz o artista. É o artista que faz o público. As pessoas que são tocadas pela obra tornam-se o público do artista. E se ela mostrou o trabalho dela para pessoas que só conseguem ver dedos, então compreenda isso. Esse público não vê além das aparências. Só isso. O público da sala de aula viu. Viu além da superfície do papel. Sentiu. Nem todo mundo vê. Nem todo mundo entende. Nem todo mundo gosta. É somente assim como é. Não é? Vamos ver como virão as próximas fotos!

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